O Drex é uma das novidades do nosso sistema bancário nacional que promete impactar o mercado financeiro. Desenvolvida pelo Banco Central, a moeda digital brasileira pretende trazer mais praticidade, agilidade, segurança, bem como menores custos para diversas transações eletrônicas realizadas no país.
Nos últimos anos, a inovação digital tem provocado mudanças profundas na economia global. Criptomoedas, blockchains, NFTs e Pix são algumas soluções que surgiram com o processo de digitalização.
Contudo, enquanto algumas dessas tecnologias possibilitam operações fora do sistema financeiro oficial, outras facilitam o acesso da população ao sistema bancário. Neste contexto, vários países estão criando a sua moeda digital de banco central (CBDC, de Central Bank Digital Currency, em inglês).
Neste artigo, vamos entender como o Drex vai funcionar no cenário nacional e mostrar as vantagens e as expectativas para o mercado, além de apresentar alguns conceitos e tecnologias da economia digital e explicar as diferenças entre a moeda digital e o Pix. Boa leitura!
O que é o Drex?
O Drex é o nome dado ao real (R$) no formato digital. Ou seja, é a moeda digital que está sendo criada pelo Banco Central do Brasil (BC), com o intuito de oferecer um ambiente seguro e regulado para as operações financeiras eletrônicas.
Em resumo, é uma nova representação do dinheiro usado no dia a dia, seja como saldo em conta corrente ou em espécie (cédulas e moedas), porém de forma digitalizada, cujas transações serão feitas em uma plataforma tecnológica operada pelo BC.
“O Drex vai trazer mais rapidez, praticidade e menor custo para várias transações contratuais e financeiras que fazemos hoje”, afirmou Maurício Moura, diretor de relacionamento, cidadania e supervisão de conduta do Banco Central, em evento online transmitido pela instituição.
O Drex será emitido pelo próprio Banco Central ou por instituições autorizadas. Sendo assim, ele é definido como uma moeda digital de banco central (CBDC). Uma CBDC possui as mesmas garantias e segurança da moeda tradicional. Desta forma, o Drex tem o mesmo valor e a mesma aceitação que o real “tradicional”.
O desenvolvimento do Drex começou em 2020. Atualmente, ele está na fase de testes em um ambiente restrito. Participam desta etapa, chamada Piloto Drex, as seguintes companhias:
- Bradesco, Nuclea e Setl
- Nubank
- Banco Inter, Microsoft e 7Comm
- Santander, Santander Asset Management, F1RST e Toro CTVM
- Itaú Unibanco
- Basa, TecBan, Pinbank, Dinamo, Cresol, Banco Arbi, Ntokens, Clear Sale, Foxbit, CPqD, AWS e Parfin
- Caixa, Elo e Microsoft
- SFCoop: Ailos, Cresol, Sicoob, Sicredi e Unicred
- XP, Visa
- Banco BV
- Banco BTG
- Banco ABC, Hamsa, LoopiPay e Microsoft
- Banco B3, B3 e B3 Digitas
- Consórcio ABBC: Banco Brasileiro de Crédito, Banco Ribeirão Preto, Banco Original, Banco ABC Brasil, Banco BS2 e Banco Seguro, ABBC, BBChain, Microsoft e BIP
- MBPay, Cerc, Sinqia, Mastercard e Banco Genial
- Banco do Brasil
Por que Drex?
Conhecida inicialmente por “Real Digital”, a moeda ganhou um nome pensado a partir da combinação de D e R com as letras E e X, tiradas das palavras “eletrônico” e “conexão” – associando a tecnologia utilizada para a movimentação da moeda.
Como o Drex vai funcionar?
Na plataforma Drex, será possível converter o dinheiro tradicional em virtual, bem como realizar pagamentos e recebimentos. O saldo correspondente à moeda digital ficará disponibilizado em carteiras de ativos digitais de instituições financeiras autorizadas.
Caso o cliente receba saldos por meio da plataforma Drex de alguma transação, como dividendos de uma ação ou rendimentos de um título em formato digital, ele poderá ficar com o Drex em sua carteira de ativos digitais ou transferir os recursos para real, ou seja, na forma de depósitos à vista ou saldo em conta de pagamento.
Os ativos digitais são arquivos ou recursos disponíveis no ambiente eletrônico que têm valor para um indivíduo ou organização.
Para entender melhor o funcionamento do Drex, comece imaginando uma negociação de um token.
O token é uma representação eletrônica de um “ativo real” (carros ou imóveis, por exemplo) usado para negociação no mercado eletrônico de investimento.
De volta ao exemplo, considere que dois clientes de instituições bancárias diferentes estão negociando na plataforma Drex um imóvel no formato digital (token), como explicado a seguir:
- O cliente do banco A solicita a compra do ativo “tokenizado”.
- O banco A utilizará os saldos na moeda digital Drex da carteira de ativos virtuais do seu cliente.
Os próximos passos acontecem no mesmo instante, dando agilidade à transação:
- Um contrato inteligente verifica se as condições contratuais foram atendidas.
Do inglês smart contract, esses contratos são programas executados automaticamente quando as condições, acordadas previamente pelas partes, são atendidas.
- O banco A transfere o saldo em Drex da carteira de ativos digitais do comprador para a carteira de ativos digitais do vendedor no outro banco, denominado banco B.
- O cliente comprador recebe a escritura do imóvel (token).
Caso a carteira digital não tenha saldo em Drex, o sistema converte o valor que o comprador tem em depósitos à vista ou em contas de pagamento na moeda digital.
Desafios da economia digital
Devido à falta de uma moeda brasileira oficial compatível com a Tecnologia de Registro Distribuído – DLT (do inglês Distributed Ledger Technologies) e com transações financeiras com ativos digitais, estão sendo usadas no mercado moedas digitais de emissão privada, as chamadas stablecoins, sem regulação adequada para a liquidação financeira de transações envolvendo “ativos tokenizados”.
Sendo assim, de acordo com o Banco Central, o Drex vem para democratizar o acesso aos benefícios da economia digital, trazendo mais eficiência e segurança para as transações financeiras em um ambiente regulado.
Tecnologias e a moeda digital Drex
É importante falar sobre dois conceitos da computação e citar algumas tecnologias emergentes para contextualizarmos o Drex.
Primeiro, a arquitetura lógica de rede par-a-par (do inglês, peer-to-peer), que trata da forma como organizamos e transmitimos os dados em uma rede. Nesta organização, os nós da rede estão conectados entre si, não sendo necessário uma estrutura centralizadora para a transmissão dos dados.
Outro importante conceito é o da criptografia, usada para proteger dados e informações por meio de algoritmos codificados, hashes e assinaturas. O método converte um texto legível por humanos em um texto incompreensível, por exemplo.
Retomando os DLTs, eles são a infraestrutura tecnológica e os protocolos que permitem o acesso, a validação e a atualização de registros simultâneos em um banco de dados em rede. É a partir desta tecnologia que os blockchains são criados. Eles estão por trás da implantação das criptomoedas, como o Bitcoin.
Os blockchains funcionam como um encadeamento de blocos de informações criptografadas e validadas de forma compartilhada, sincronizada e consensual nos múltiplos nós de uma mesma rede.
Quais são as vantagens do Drex?
Uma forte vantagem é a ideia de paridade e previsibilidade do Drex em relação às criptomoedas, visto que a sua criação busca regulamentar as negociações de ativos digitais no Brasil, o que trará maior estabilidade ao mercado, diferente das oscilações nos preços dos ativos.
Logo, a implementação de uma moeda digital nacional trará novas oportunidades e também mais segurança às transações financeiras no ambiente eletrônico.
Inclusão financeira
O Pix é o meio de pagamento mais utilizado entre todas as gerações de consumidores, como mostra a pesquisa “A relação das gerações com as finanças pessoais”, da série Serasa Comportamento.
Assim como o Pix democratizou o acesso aos meios de pagamento, o Drex tem o potencial de impactar o cotidiano das pessoas, incluindo os cidadãos em soluções de crédito, investimento e seguro.
Transações de ativos com segurança
O Drex vai possibilitar a realização de diversas transações financeiras de forma segura com ativos digitais e contratos inteligentes. Uma das vantagens dos contratos inteligentes é que eles não podem ser adulterados ou extraviados.
Os serviços financeiros inteligentes serão liquidados pelos bancos dentro da plataforma Drex do Banco Central, que é um ambiente em desenvolvimento utilizando a tecnologia DLT.
Todavia, para ter acesso à plataforma Drex, será necessário ser um intermediário financeiro autorizado, como um banco. Esse intermediário fará a transferência do dinheiro depositado em conta para sua carteira digital do Drex para realizar as transações com ativos digitais com total segurança.
Novos modelos de negócios
O Drex vem para fomentar novos negócios e permitir a prestação de serviços financeiros mais eficientes e democráticos. Essencial para atender as mudanças de consumo e de comportamento na sociedade.
Como revela a pesquisa do Serasa, metade dos brasileiros entre 18 e 41 anos não têm mais o hábito de sacar dinheiro. A princípio, o Drex não deverá ter muito impacto sobre a demanda por dinheiro físico, segundo o BC. Entretanto, há uma tendência em curso a se observar.
Ainda sobre tendências, o Drex trará maior conveniência e naturalidade às negociações de ativos digitais, com etapas da operação bancária realizadas de modo automático. Uma ideia que conversa com o banco invisível, ou invisible banking.
Em resumo, a moeda digital brasileira foi criada para que mais pessoas tenham acesso a:
- Operações de produtos e serviços tradicionais, como investimentos e financiamentos, com mais segurança;
- Contratos inteligentes e protocolos de intermediações de compra e venda de produtos e serviços de forma facilitada e inovadora;
- Novos tipos de produtos e serviços financeiros digitais.
Qual é a diferença entre Pix e Drex?
O Pix é um meio de pagamento instantâneo, que ocorre na mesma hora, enquanto o Drex é uma moeda digital.
O Pix é uma transação bancária, assim como DOC e TED, também operado pelo Banco Central. Já o Drex é o dinheiro, então, ele poderá ser usado no Pix ou transferido, e até mesmo como pagamento para liquidar transações com ativos digitais.
Para finalizar, lembramos que o Drex é desenvolvido e regulado pelo Banco Central seguindo as regras do Sistema Financeiro Nacional (SFN) e a política monetária brasileira.
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