A pandemia de Covi-19 é a disrupção do século. Ela mergulhou o mundo na pior crise desde a Segunda Guerra, custou milhares de vidas e está longe do fim. Mas é preciso desenhar o que vem pela frente depois da pandemia.

A pandemia mudará para sempre a vida como a conhecemos. Em diversos setores e segmentos. E isso, evidentemente, inclui o universo dos negócios. Pode ser cedo demais para tirar conclusões sobre o mundo posterior ao novo coronavírus, mas o momento exige reflexão. Por isso, a HSM Management conversou com sete executivos e especialistas para buscar pistas sobre como deverá ser o futuro próximo.

Pediram a eles que fizessem o exercício de imaginar que o distanciamento social acabou, a crise na saúde está sendo superada e as pessoas estão retomando suas rotinas profissionais. Quais são os aprendizados deixados pelo novo coronavírus? E como essas lições afetam sua área de atuação?

Nesse primeiro texto, da série “E depois da pandemia” vamos falar sobre o papel da liderança, para isso, o Daniel Faccini Castanho, da Ânima,
aposta na confiança. 

Continue a leitura e veja o que ele fala sobre o assunto. 

Mudança no ambiente de trabalho 

A pandemia do novo coronavírus não vai mudar apenas o ambiente de trabalho – vai mudar, também, a maneira como as equipes se comportam. Os papéis de funcionário, chefe e sócio serão ressignificados, e os líderes empresariais vão aprender a conduzir seus times a distância, abrindo mão de uma supervisão constante para incentivar e apostar em capacidades individuais.

“Será necessário que todos, independentemente da posição, assumam uma postura empreendedora”, diz Daniel Faccini Castanho, sócio-fundador e presidente do Conselho da Ânima, um dos maiores grupos educacionais privados do País, com 8 mil colaboradores. “Não é uma figura de empresário, porque este é quem corre o risco. O empreendedor trabalha para si mesmo, por um propósito, para o seu desenvolvimento e compartilhando os princípios da empresa.”

Nesse sentido, as companhias terão de se reinventar. “Na Ânima já trabalhamos com os conceitos de impairment, trust e accountability, e não com controle”, afirma Castanho. Esse formato permite que os líderes deem autonomia às equipes, confiando nos profissionais para comunicar o andamento das demandas. Empresas que conseguirem adotar modelos em que o trabalho não dependa de supervisão integral e de cobranças frequentes terão resultados melhores ao final desse período. “A imagem do chefe morreu”, defende Castanho.

O líder como mestre após a pandemia

Os líderes, entretanto, seguirão essenciais. Com perfis um pouco diferentes. “Nesse momento de incertezas, o que a sociedade vai pedir é a figura do mestre.” Castanho remonta à Grécia Antiga, onde os mestres eram sinônimo de reflexão, serenidade e lucidez. “Será função do líder atuar como um grande professor, iluminando o caminho e ensinando a não temer o erro”, aponta o presidente do conselho da Ânima.

 

Palavra da vez: confiança.

A palavra de ordem será confiança – e ela precisa começar vindo de cima. Um bom primeiro passo foi dado no fim de março, quando mais de 40 empresas brasileiras se juntaram para lançar o movimento #NãoDemita. A Ânima está entre as signatárias, assim como Vivo, Renner e Bradesco. A campanha organizada pelos líderes dessas empresas defende que nenhum funcionário seja desligado até maio, e incita os participantes a contribuírem, por meio de doações, com a estabilidade financeira dos profissionais autônomos.

Castanho, um dos articuladores do movimento, acredita que a crise vai amadurecer as organizações em relação ao seu papel de liderança na sociedade. “As pessoas estão entendendo que fazemos parte de um grande ecossistema. Se algum setor não vai bem, isso impacta o todo.” Para ele, a hora é de refletir sobre a estrutura do País, a maneira de fazer negócios e os modelos de trabalho. E vamos precisar de bons mestres para isso.