Por Marco Salvo, Mestre do ERP
A Inteligência Artificial (IA) é um tema que tem sido amplamente discutido, desde as generativas até as assistentes virtuais avançadas, reconhecimento facial, análise preditiva e automação de processos industriais. Quero compartilhar algumas reflexões em relação aos sistemas ERP, considerando especialmente as características do varejo virtual no Brasil. Essas ferramentas já provaram seu valor ao longo dos anos, centralizando informações e otimizando processos, mas com o advento da IA generativa (Gen AI), estamos prestes a dar um salto quântico em termos de eficiência e inteligência nos negócios. Uma pesquisa da McKinsey revelou que a presença da Gen AI nas empresas quase dobrou nos últimos dez meses, com 65% dos executivos relatando uso regular em pelo menos uma função de negócio nas suas organizações.
Vamos imaginar processos que não apenas executam tarefas, mas aprendem e se aperfeiçoam continuamente. ERPs potencializados por IA mostrando não apenas o que está acontecendo, mas prevendo futuras tendências com uma precisão impressionante. As interfaces se tornaram mais intuitivas e personalizadas, adaptando-se às necessidades de cada usuário. Essa combinação poderosa de IA e ERP está transformando a maneira como gerenciamos nossos negócios. No varejo e no e-commerce, especificamente, grandes oportunidades têm convivido com todo tipo de experimentação bem sucedida, tanto nos grandes quanto nos pequenos negócios.
Temos exemplos de clientes de ERP que, cruzando dados do clima com eventos programados para o dia na TV (como a transmissão de um grande jogo de futebol, o episódio final de uma série ou o último dia de um grande reality show) consegue prever o aumento da demanda de itens específicos e organizar a produção, a exposição, a precificação e a oferta desses produtos aos clientes. Algumas empresas, que antes faziam isso baseados apenas no “feeling” e na experiência pessoal de alguns poucos colaboradores, sofisticaram o processo ao ponto de delegar quase completamente à inteligência artificial todo o planejamento de estoque e produção.
Essa formalização das percepções pessoais traz dois grandes benefícios diretos. Em primeiro lugar, desonera as pessoas da repetitiva tarefa de consultar, todos os dias (e eventualmente várias vezes ao dia) a previsão do tempo e a programação da TV. Em segundo lugar, tira das pessoas a responsabilidade diária de tomar decisões que podem ser “calculadas” automaticamente pela IA, permitindo que elas passem a dedicar mais tempo e energia para desenvolver novas ideias, projetos e, sobretudo, para interagir produtivamente com outros seres humanos.
Naturalmente, isso não implica em uma substituição total do trabalho humano. Assim como a IA “aprende” à medida que é utilizada, os seres humanos também adaptam-se a essa nova realidade e continuam produzindo avanços, tendo novas ideias, testando novas possibilidades e trabalhando junto às IAs.
Claro, essa integração traz desafios, precisaremos repensar processos, investir em capacitação e lidar com questões de privacidade e segurança de dados. À primeira vista, essas inovações podem parecer assustadoras a alguns trabalhadores, e é óbvio que a IA nem sempre acerta, assim como os seres humanos. Mas, acreditem, os benefícios superam em muito os obstáculos. A pesquisa da McKinsey também aponta que as empresas de alto desempenho estão se movimentando proativamente para lidar com esses riscos. Por exemplo, 44% dessas companhias incorporam estratégias de mitigação de riscos desde o início do desenvolvimento de soluções de Gen AI. É interessante notar ainda que 64% dessas organizações afirmam que suas lideranças seniores entendem como a tecnologia pode impactar o negócio.
A cereja do bolo vem com a massificação da tecnologia também para os clientes, de forma integrada: assim que a IA “conclui” que determinados perfis de clientes estarão mais dispostos a comprar determinados itens em certos dias específicos, dispara automaticamente mensagens por aplicativo para esses clientes, ofertando o produto certo, com o preço adequado, com a máxima comodidade. O cliente, satisfeito com essa interação, já faz a compra no próprio aplicativo da loja, que recebe o pedido e entrega para o cliente na hora certa. Toda a cadeia é executada on-line, automaticamente, com plena satisfação do cliente.
Precisaremos também, num futuro não tão distante, de novas habilidades para interpretar dados, tomar decisões estratégicas e liderar equipes nesse novo contexto. O futuro chegou e ele é inteligente, as empresas que abraçarem essa revolução estarão na vanguarda, prontas para enfrentar os desafios do mercado com agilidade e precisão nunca vistas. Lembrem-se: a tecnologia evolui, mas o coração do negócio continua sendo as pessoas. Use a IA para potencializar seu negócio, mas nunca se esqueça do fator humano. Para criar valor, as organizações devem se preocupar em ter todos os elementos alinhados.
E então, estão prontos para essa jornada? O trem da inovação está partindo. Não fiquem para trás!
*Com mais de 30 anos de experiência em ERP, Marco Antônio Salvo — o Mestre do ERP — fez parte de grandes companhias multinacionais, como Unilever e IBM, participando de negociações de contas especiais que requerem aprofundamento técnico e conhecimento de processos de alta complexidade. Salvo possui experiência na área de serviços, desenvolvimento e software. Atualmente, atua na área de desenvolvimento de novos negócios e soluções na Sankhya Gestão de Negócios. O Mestre do ERP possui um canal no YouTube com mais de 17 mil inscritos e mais de 200 vídeos publicados.
Matéria publicada em E-commerce Brasil
